Ex-PM acusado de matar namorada com um tiro na cabeça é condenado a 17 anos de prisão no Piauí

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Durante depoimento, Allison Wattson alegou que o tiro em Camilla Abreu foi acidental. O júri popular aconteceu no Fórum Criminal sem a presença do público e familiares dos envolvidos. Ex-capitão Alisson Wattson
Reprodução/TV Clube
O ex-capitão da Polícia Militar Allison Wattson da Silva Nascimento foi condenado a 17 anos e seis meses de prisão pela morte da namorada Camilla Pereira de Abreu, de 21 anos, em outubro de 2017. O julgamento de Allisson Wattson começou na sexta-feira (24) e encerrou na madrugada de sábado (25), na 2ª Vara do Tribunal do Júri, em Teresina.
O júri teve início às 9h (24) e terminou à 1h da madrugada de sábado (25), no Fórum Cívil e Criminal, comandado pela juíza Rita de Cássia da Silva, da 2ª Vara do Tribunal do Júri. O promotor de acusação do caso foi João Benigno Filho, que teve como assistente as advogadas de acusação Ravenna Castro e Carla Oliveira. Na defesa do réu estavam os advogados Francisco de Assis Silva e Daniella Carla Gomes Freitas.
Os jurados consideraram o ex-PM culpado pela morte com a presença das qualificadoras de feminicídio e motivo fútil, além de outros dois crimes: ocultação de cadáver e fraude processual. A pena foi fixada em 17 anos, mas o capitão já está preso há quatro. Portanto, deve cumprir mais 13 anos de reclusão pelo crime.
Em depoimento, o acusado alegou que o tiro em Camilla Abreu foi acidental. Segundo ele, a vítima pegou a sua arma entre os bancos do carro e ao tentar desarmá-la o revólver disparou. O júri considerou que o crime foi doloso: com intenção.
Família e polícia consideram pena branda
Para a família da vítima, a pena foi um “tapa na cara”, considerando baixo o tempo que o capitão deve permanecer em reclusão. O pai de Camilla, Jean Carlos, disse ao g1 que a família tem interesse de recorrer da sentença.
“A gente sabe como funciona, daqui poucos anos ele deve estar solto e vivendo a vida dele normalmente, enquanto a minha filha perdeu tudo. Já estaria formada, trabalhando, talvez com filhos… Só quem perde nessa situação é quem morre. Achamos a pena muito injusta”, declarou.
Caso Camilla Abreu: no Tribunal do Júri, testemunhas relatam que acusado tentou ocultar marcas de sangue do carro
‘A família foi a primeira a ser condenada’, diz tia de Camilla
Para o delegado Francisco Costa, o Barêtta, coordenador do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa, as provas obtidas pela polícia na investigação foram contundentes ao mostrar que o ex-capitão teve a intenção de matar a namorada e de ocultar o corpo da jovem. Ele considerou que a sentença é um “estímulo” para outros crimes.
“Essa sentença acaba sendo um estímulo para a prática criminosa. Ele não matou a Camilla no [povoado] Mucuim, matou no [bairro] Alto da Ressurreição e levou [o corpo] até o povoado. Ele mesmo levou a polícia onde deu o tiro, mostrou o percurso que fez no carro, onde escondeu o corpo. Ele inclusive foi no outro dia para conferir se o corpo estava lá, está tudo nos autos desse processo”, lamentou o delegado.
Depoimento acusado
Na saída de um quiosque, o acusado diz que deixou a amiga de Camilla em casa e seguiu para o apartamento da namorada, mas no caminho ela falou que não queria dormir lá. Segundo ele, a estudante de direito sugeriu um programa diferente e eles seguiram para o Povoado Mucuim, onde desceram para namorar e após uma discussão, ocorreu o disparo que matou Camilla Abreu.
“Descemos para namorar, houve um assunto que não me agradou. No momento que a Camilla foi entrar no carro, ela pegou a minha arma entre os bancos do carro. Eu tentei dar a volta no carro, conversar, tirar a arma dela, que estava alterada, não sei se por conta da bebida. Eu dei um golpe para desarmá-la, a arma disparou e o disparo pegou na cabeça dela. Tinha muito sangue, desse momento pra frente eu perdi a razão. Fiquei estático”, declarou Allison Wattson.
Allison contou que Camilla Abreu estava em pé do lado da porta do passageiro e após o tiro caiu do lado de fora do veículo. O acusado diz que tentou segurar o corpo da namorada, depois a colocou dentro do carro, porque ela não respondia.
“Entrei em choque, coloquei ela no carro, mas era tanto sangue. Estava amanhecendo, deixei a Camilla no chão e fui para casa, desliguei o celular. Fiquei sem dormir, pensei em tirar a minha própria vida. Depois disso tomei um calmante, fui no quartel devolver a arma, porque não queria ela perto de mim”, contou o acusado.
O ex-capitão falou que procurou um advogado, que o aconselhou a se livrar do carro, porque ninguém acreditaria nele. Allison confirmou ter levado o carro para lavar e tentou trocar o banco, que estava sujo de sangue de Camilla, e que pretendia transferir a documentação do veículo.
O corpo de Camilla foi encontrada cinco dias após do crime. A família da vítima chegou a registrar o desaparecimento da jovem no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP).
Testemunhas ouvidas
A primeira testemunha a ser ouvida no julgamento foi Luana Regina de Sousa, que era amiga de Camilla, a última a ter contato com a vítima horas antes do crime, em um bar onde foram Luana, vítima e acusado.
O advogado de defesa do ex-namorado de Camilla, Francisco de Assis Silva, pediu que a testemunha não fosse ouvida alegando que ela tinha “amizade íntima” com a vítima. Mas, o pedido foi indeferido pela juíza.
Chorando muito, Luana começou a ser ouvida falando dos últimos momentos em que esteve com Camilla antes de seu desaparecimento e depois contou como era o relacionamento entre a vítima e acusado.
Ela afirmou que o relacionamento durou cerca de dez meses e, antes dela morrer, o namoro era abusivo, com agressões físicas e psicológicas. Na noite do crime, segundo ela, o acusado acompanhava Camilla até quando a vítima ia ao banheiro do bar, como se monitorasse a jovem.
A defesa do acusado acusou a jovem de ter mentido durante o julgamento, sobre ligações recebidas por ela partindo dos telefones do acusado e de Camilla no dia do crime.
A jovem disse não lembrar-se exatamente dos horários das ligações recebidas, por isso não tinha como afirmar sobre os horários e quantas ligações havia recebido. Também questionada sobre onde o corpo de Camilla foi encontrado, a jovem não soube responder a pergunta e se emocionou bastante.
Neste momento, o depoimento precisou ser interrompido por cerca de 15 minutos, porque Luana chorava muito. Ela finalizou o julgamento afirmando não saber onde e como o corpo de Camilla havia sido encontrado.
Marcelo da Silva Barroso, lavador de carros, foi o segundo a ser ouvido. Ele disse que o acusado chegou no carro com muito sangue sob o banco do carro do lado da vítima e pagou R$ 40 pelo serviço. Segundo ele, o encosto do banco já não estava no carro.
Ele informou que o ex-capitão foi questionado por ele sobre o motivo do sangue no carro e o acusado relatou que havia acidentado e socorrido duas vítimas na estrada, que ficaram feridas.
Segundo ele, uma lavagem inicial foi feita, mas foi necessário encaminhar o veículo a um posto de lavagem, devido à grande quantidade de sangue.
Jaldo Viana, dono de um posto de lavagem onde o veículo também foi higienizado, relatou que o acusado havia relatado aos funcionários do posto a mesma justificativa para a presença de sangue no carro.
Os trabalhadores do posto estranharam a justificativa, segundo ele, porque o carro não tinha marcas de colisão. Ele pagou cerca de R$ 200 para a lavagem no local.
Segundo ele, foi necessário fazer a retirada do carpete do carro por conta da grande presença de sangue e que havia sangue no teto, nos bancos do passageiro e motorista e no carpete do veículo.
Ele disse que trabalhava no setor administrativo da Secretaria de Segurança do Estado e que, quando soube do caso pela imprensa, associou as informações e informou a um policial militar que havia lavado um carro semelhante ao do acusado, com muitas marcas de sangue. Horas depois, o capitão foi preso, segundo ele.
Jones Castelo Branco da Costa, dono de uma loja de autopeças, disse que antes da prisão e depois de lavar o carro, o acusado foi até sua loja para comprar um banco novo para o carro, já que o banco do passageiro, onde a vítima estava quando foi assassinada, precisou ser retirado. O ex-capitão teria pago cerca de R$ 200 pelo banco.
Defesa alega disparo acidental
Em entrevista antes da audiência, o advogado afirmou que a tese da defesa é de que o disparo que matou Camilla foi acidental e que a teoria é amparada por perícias técnicas presente nos autos do processo.
“A defesa não tem outra tese a não ser a formada nos autos através das perícias técnicas realizadas, que, na verdade, o que houve foi nada mais do que um acidente. Um disparo acidental que culminou, infelizmente, na morte da vítima. Não houve intenção. A própria perícia descreve isso”, declarou.
Família acompanhou do lado de fora e pede justiça
A família não acompanha o julgamento de forma presencial, mas foram ao tribunal como forma de protesto contra casos de feminicídios. O pai da vítima, Jean Carlos Abreu, disse que espera que o acusado seja condenado com a pena máxima.
Familiares estão diante do Fórum Cívil e Criminal de Teresina, onde acontece o julgamento do acusado
Jonas Carvalho
“Tenho certeza de que ele sai antes e vai ficar solto, mas ela é quem está presa, não sai mais”, afirmou Jean Carlos. Camilla hoje teria 26 anos.
Jeane Rodrigues de Abreu, tia de Camilla, disse que espera que justiça seja feita e que o acusado receba a pena máxima.
Como o crime aconteceu
Capitão da PM é acusado de matar a estudante Camilla Abreu
Reprodução / Facebook
O então capitão da Polícia Militar, Allison Wattson, namorou a estudante de direito Camilla Abreu por cerca de dez meses, entre términos e retornos. Amigas da estudante relataram, à época do crime, que o réu tinha comportamento “agressivo” e era extremamente ciumento e possessivo.
Na noite do dia 25 de outubro, ele foi a última pessoa que esteve com Camilla e somente cinco dias depois confessou que a matou, com um tiro na cabeça, dentro do carro dele e enterrou o corpo em um lixão no povoado Mucuim, zona rural de Teresina.
O desaparecimento de Camilla chegou a ser registrado no Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) e a polícia passou a investigar. Durante os cinco dias que a família procurou a estudante, o policial alegava que a tinha deixado na casa do pai, depois de saírem, e não a tinha visto mais.
Allison foi preso ao confessar o crime e mostrar onde estava o corpo. No início das investigações, ele chegou a dizer que o tiro havia sido acidental, mas o laudo pericial descartou a possibilidade. Ele foi preso em flagrante e um dia depois a prisão foi convertida em preventiva.
O então capitão ficou em um presídio militar até perder a patente e ser expulso da Polícia Militar em fevereiro de 2019. Depois, ele foi transferido para a penitenciária Irmão Guido, onde está até hoje.
A Polícia Civil indiciou o namorado da vítima por três crimes: feminicídio, ocultação de cadáver e fraude processual. A perícia constatou ainda que Camilla foi agredida antes de ser morta com o tiro na cabeça. A audiência de instrução e julgamento realizada em fevereiro de 2018 decidiu que o caso iria a júri popular, que julga crimes dolosos contra a vida.
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