Pastoral do Povo da Rua foi impedida por policiais de distribuir comida na Cracolândia no último sábado, diz padre Júlio Lancellotti

schimtz
schimtz Twitter
10 Min Read


Secretaria da Segurança Pública disse que não há restrição a ações sociais na região e que policiais fizeram bloqueio temporário do trânsito de veículos e pedestres visando a segurança e a preservação do patrimônio. Distribuição de comida na Cracolândia foi alvo de críticas da deputada Janaína Paschoal (PSL), que disse que ‘alimentar viciados alimenta o crime’. Pastoral volta a doar alimentos na Cracolândia
Voluntários da Pastoral do Povo da Rua, organização liderada pelo padre Júlio Lancellotti, afirmam que foram impedidos por policiais de distribuir comida para moradores e frequentadores da Cracolândia, na região central de São Paulo, no último sábado (7). O grupo foi alvo de críticas da deputada estadual Janaína Paschoal (PSL) por distribuir comida às pessoas em situação de rua na região.
A Secretaria da Segurança Pública do estado disse que não há nenhuma restrição a ações sociais, de saúde ou humanitárias, na região da Cracolândia, mas reconheceu que, no sábado, a Polícia Militar interrompeu, por cerca de 10 minutos, o trânsito de veículos e pedestres na área. Segundo a pasta, o bloqueio ocorreu “visando a segurança e a preservação do patrimônio”.
Procurada pela TV Globo, a deputada Janaína Paschoal disse que não é contra a distribuição de comida, mas declarou que “alimentar viciados alimenta o crime”.
Segundo uma voluntária da pastoral, policiais que faziam uma operação na região impediram a entrada do grupo humanitário no sábado. Padre Júlio Lancellotti afirmou que outras entidades assistenciais estão com dificuldades para fazer o trabalho na região pelo mesmo motivo.
“Eles [policiais] chegaram apontando armamento e dizendo que quebramos a barreira, que não era pra gente entrar. Eu falei, senhor, nós somos da Pastoral do Povo da Rua, do Júlio Lancellotti, e ele falou ‘não quero saber”‘, disse a voluntária.
Por volta das 14h desta segunda-feira (9), a equipe da pastoral voltou para a região e conseguiu entregar as refeições.
Apoio após críticas
‘Não neguemos o pão e o coração para ninguém’, diz o padre Júlio Lancellotti
O padre Júlio Lancellotti publicou nesta segunda-feira (9) um vídeo nas redes sociais agradecendo o apoio que tem recebido após ter sido criticado pela deputada Janaína Paschoal.
Segundo o padre, o trabalho da Pastoral do Povo de Rua não é só distribuir comida, mas zelar pelos “marginalizados, descartados, excluídos” da cidade.
“O nosso objetivo principal não é distribuir comida, mas é ser alimento, força e esperança para aqueles que estão esquecidos, marginalizados, descartados, excluídos. Sejamos irmãos de todos. Não neguemos nem o pão, nem o coração para ninguém”, disse Lancellotti (veja vídeo acima).
Após as críticas da deputada estadual, internautas se mobilizaram nas redes sociais em um movimento de ajuda ao trabalho da Pastoral do Povo de Rua, fazendo um “pixaço” (transferência bancária) em favor do trabalho do padre Júlio.
O “pixaço” é um campanha bem humorada de transferência de dinheiro por meio do Pix para a continuidade do trabalho da Pastoral do Povo de Rua. O lema da campanha é “Deixe a Janaína mais pistola. Faça um Pix para o Padre Júlio”.
Gregório Duvivier emplaca a campanha de transferências de recursos à Pastoral do Povo de Rua de SP, após críticas da deputada Janaína Paschoal (PSL).
Reprodução/Twitter
O G1 procurou a deputada Janaína Paschoal que, por meio de nota, disse que “as pessoas têm liberdade para doar e colaborar com quem e com as causas que bem entenderem”.
Campanha “Deixe a Janaína mais pistola” após críticas ao trabalho de acolhimento do padre Júlio Lancellotti.
Reprodução/Redes Sociais
O pároco da Igreja São Miguel Arcanjo, da Mooca, agradeceu o movimento de ajuda à Pastoral.
“Queria agradece a todos que têm manifestado sua solidariedade e colaboração com o trabalho e a ação da Pastoral de Rua de São Paulo e com todos os grupos religiosos ou não religiosos, que buscam, sobretudo, serem humanizadores da vida, indo ao encontro daqueles que ninguém quer”, disse Júlio Lancellotti nas redes sociais.
Alesp
O presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), deputado Emídio de Souza (PT) também afirmou nesta segunda (9) que vai propor a realização de uma audiência pública na Comissão para discutir o assunto da doação de alimentos e outros itens à população em situação de rua em São Paulo.
A proposição decorre por causa da polêmica envolvendo a deputada Janaina Paschoal (PSL). De acordo com o deputado, “o objetivo é debater o assunto e tentar encontrar soluções”.
Padre Júlio será convidado. Além dele, serão chamados representantes do governo do estado e da prefeitura, segundo Emídio de Souza.
Por ser parlamentar, Janaina Paschoal tem acesso livre às reuniões da Comissão. Ela não é membro dessa comissão.
Críticas
Janaina Paschoal durante sessão no Senado sobre processo de impeachment de Dilma Rousseff, em 2016
Edilson Rodrigues/Agência Senado
Durante o fim de semana, a deputada estadual Janaina Paschoal (PSL-SP) fez publicações nas redes sociais criticando o padre Júlio Lancellotti e a Pastoral do Povo da Rua de São Paulo por distribuir comida às pessoas em situação de rua no Centro da capital paulista, na região da Cracolândia.
“A distribuição de alimentos na Cracolândia só ajuda o crime”, escreveu no último sábado (7). Ela disse ainda que “o padre e os voluntários ajudariam se convencessem seus assistidos a se tratarem e irem para os abrigos”, afirmou ela no Twitter.
O post foi feito após o padre afirmar que a Polícia Militar intimidou agentes da pastoral no bairro da Luz, no Centro de São Paulo, para não entregarem comida aos moradores de rua. (Veja nota da Secretaria de Segurança Pública no final da reportagem).
Post da deputada estadual Janaina Paschoal no Twitter critica doação de alimentos na Cracolândia
Reprodução
Leia também:
Ricardo Nunes volta a proibir instalação de barracas na Cracolândia: ‘Não vamos admitir tendas de drogas’
Religiosos que trabalham no Centro criticam liberação de Nunes para compra de fuzis pela GCM: ‘SP tem outras emergências’
Nunes libera R$ 400 mil para compra de fuzis pela GCM; especialistas criticam: ‘papel da guarda está sendo desvirtuado’
Padre Júlio Lancellotti fez publicação afirmando que a PM intimidou agentes de Pastoral que distribuía alimentos na região da Cracolândia
Reprodução
A postagem da deputada recebeu críticas e, neste domingo (8), ela voltou às redes sociais e escreveu que “há anos, todos reclamam da Cracolândia, mas ninguém tem coragem de olhar para as ações que findam por colaborar que aquela região siga assim”.
“Alimentar no vício só estimula o ciclo vicioso! Peço que pensem a respeito!”, completou.
Após críticas, Janaina Paschoal reforçou critica à distribuição de alimentos
Reprodução
No seu perfil, Lancellotti reproduziu um meme com imagens que representariam a deputada dormindo enquanto o número de brasileiros que morreram por Covid-19 se aproxima de 600 mil e depois exibe ela acordada e revoltada com a doação de comida. Na legenda, ele escreveu “lutar e crer”.
Padre Júlio Lancellotti publicou meme para rebater criticas da deputada estadual Janaina Paschoal
Reprodução
Ao G1, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) enviou a seguinte nota:
“A SSP informa que as forças de segurança paulista atuam diariamente no centro da cidade de São Paulo, inclusive na região da Nova Luz, para garantir a segurança da população e combater todas as modalidades criminosas. O efetivo da PM realiza no local o policiamento preventivo e ostensivo, com o emprego de bases comunitárias móveis, equipes de radiopatrulhamento de duas e quatro rodas, Cavalaria, Baep, equipes de Força Tática e Rocam, além do uso de drones para mapear a área e traçar novas ações. A Polícia Civil também atua no local, por exemplo, com a Operação Caronte, realizada pela 1ª Seccional, que prendeu suspeitos envolvidos com o tráfico de drogas e apreendeu de mais de 3,5 quilos de entorpecentes. As polícias paulistas são instituições legalistas, que respeitam e obedecem o Art. 5°, inciso XV, da Constituição Federal: é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. De qualquer forma, a Corregedoria da instituição está à disposição para receber todas as denúncias com relação às abordagens policiais.”
VÍDEOS: Tudo sobre São Paulo e região metropolitana

Share This Article