Senado vê ‘carta à nação’ com cautela e sinaliza que manterá indisposição com o governo

schimtz
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A carta à nação divulgada na tarde desta quinta-feira, 9, pelo presidente Jair Bolsonaro foi vista com cautela pelos senadores. No momento de crise institucional, agravada pelos discursos do mandatário do país no feriado de 7 de setembro, o recuo foi elogiado. No entanto, os parlamentares estão céticos quanto ao prazo de vigência da trégua e, por isso, sinalizam que, ao menos por ora, nada muda em relação à indisposição com o governo federal. Nas palavras de um senador da maior bancada da Casa: “Não é hora de baixar a guarda”.

Senadores ouvidos pela reportagem destacaram o fato da carta ter sido redigida pelo ex-presidente Michel Temer e pelo marqueteiro Elsinho Mouco, para apontar que o gesto de Bolsonaro não foi genuíno. “Na terça-feira o presidente diz não vai cumprir as decisões de Alexandre de Moraes e o chama de canalha. Na quinta-feira, o ministro virou bom jurista e excelente professor. Ninguém muda tanto em dois dias”, diz uma liderança partidária. Além disso, na avaliação destes parlamentares, Bolsonaro acenou ao Supremo Tribunal Federal (STF) porque foi convencido de que a agenda de seu governo poderia ficar totalmente inviabilizada no Congresso Nacional – o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (PL-AM), afirmou, em entrevista à Jovem Pan, que “o ano legislativo acabou”.

Por fim, parlamentares enxergaram no movimento do presidente da República uma tentativa de conter danos. Como a Jovem Pan mostrou, integrantes da equipe econômica foram alertados de que o tom belicoso de Bolsonaro contra o Judiciário sepultaria as chances de acordo para reduzir o valor dos precatórios.  “O dia 09.09 é histórico. Dia que Bolsonaro fez autocrítica sobre a China. E dia que ele recuou na tensão com outros Poderes. Se for ato genuíno, é louvável. Se for jogada para liberação do recurso de precatórios para programas eleitoreiros em 22, é lastimável. Estaremos alerta”, disse o senador Omar Aziz, presidente da CPI da Covid-19, em publicação em seu perfil no Twitter.

Apesar do aceno de Bolsonaro e da manifestação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), segundo o qual a carta à nação “vai ao encontro do que a maioria dos brasileiros espera”, os senadores esperam que o chefe da Casa devolva a medida provisória (MP) que altera o Marco Civil da Internet. Pacheco recebeu um parecer da Advocacia da Casa e teve o respaldo dos líderes partidários, que endossaram a sua decisão. Em paralelo, a reforma do Imposto de Renda e a indicação do ex-advogado-geral da União André Mendonça para o STF seguem sofrendo resistência dos parlamentares.

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